1.PPEG- Qual a
sua formação acadêmica e aonde se formou?
Prof. Nestor
A. Kaercher: sou licenciado em Geografia pela UFRGS (1988). Fiz mestrado em
Educação (UFRGS, 1997) e doutorado em Geografia pela USP (2005).
2.PPEG- No
estágio que realizamos com os alunos do Educação de Jovens e Alunos, o EJA, no
Unilasalle, com idades entre 16 e 74 anos, propusemos a eles a elaboração de um
dicionário geográfico onde cada aluno criava conceitos, em determinadas
palavras, conforme o entendimento de cada aluno. O Sr. concorda que devemos
alfabetizar o aluno em Geografia capacitando-o na sua compreensão e ter o livro
didático como material de apoio?
Prof. Nestor
A. Kaercher- Sempre digo aonde vou: ‘se não for imoral nem ilegal, vale a
tentativa”. Todas as tentativas são válidas, desde que o professor tenha claro
do porque escolheu esta ou aquela opção (de conteúdo, de metodologia, de
recursos, etc). Ou seja, o planejamento intencional e prévio é fundamental.
Outra coisa importante é ouvir e olhar o aluno com atenção, ver suas reações,
suas motivações, seu desânimo.... para que o planejamento inicial possa ser
revisto e novas tentativas sejam feitas. Quanto ao dicionário pode ser uma boa
estratégia, desde que não se leve o aluno a decorar conceitos mecanicamente.
Quanto ao livro didático também não tem o que objetar. Há vários deles que são
muito bons. Usá-los com criatividade e criticidade é tarefa fundamental para o professor.
3.PPEG - O
estudante que está se preparando para o vestibular, a maioria das vezes, fica na dúvida qual a profissão que vai
escolher. “Adoro a disciplina de Biologia, vou optar pela Medicina”, por
exemplo. Então, como mostrar que a
Geografia pode influenciar na escolha da carreira profissional? E se há alguma
bibliografia sobre as disciplinas que podem ajudar nessas dúvidas?
A opção pela
carreira profissional ultrapassa em muito o ‘gostar’ ou não de algumas
disciplinas. Tem fatores sociais, a história de cada família, do indivíduo, as
possibilidades que se tem. Claro se tivermos mais e melhores professores de
Geografia (ou de outras disicplinas) mais pessoas se inclinarão a nos ouvir com
atenção. Se vão escolher a profissão a, b ou c no futuro me parece menos
importante do que me ouvirem minhas aulas com atenção hoje. Não controlamos o
futuro dos nossos alunos, então, o prioritário é ser um professor coerente,
democrático e respeitador dos alunos. Ouvi-los com atenção não é só pra que
eles repitam nossos conteúdos de Geografia. É também para eles falarem de seus
desejos, sonhos, medos e planos. Isso pode ajudar o aluno a escolher com mais
segurança. Quanto a bibliografias .... sobre qualquer assunto há uma infinidade
de opções, boas e ruins. Logo, o primeiro passo é falar com mais pessoas,
ouvi-las sobre suas opções, tanto de profissão como de .... leitura. Como se vê
estou insistindo no DIÁLOGO como um processo e método pedagógico. Não é uma
mera conversa de compadre. O professor não é ‘amigo’ do aluno. Ele dialoga com
o aluno para debater, discutir, propor que olhemos para cantos mal iluminados que
estão ao nosso redor, e, é claro, dentro de nós mesmos. Como já escrevi: não
tem como docenciar sem existenciar.
Prof. Nestor
A. Kaercher-
4.PPEG-
Conforme o título do seu texto: “Quando a Geografia crítica é um pastel de
vento e nós, seus professores, Midas.”; como esse professor, em tempos de reality show,brigas em sala de aula e
catástrofes ambientais, pode utilizar o cotidiano e despertar o interesse dos
alunos pela Geografia?
Bom, sempre se
pode olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Problemas existem aos montes e a
sala de aula não estaria fora deles. Sou um otimista porque sei que o professor
PODE FAZER A DIFERENÇA PARA MELHOR PARA SEUS ALUNOS. Um professor não precisa
ser um cara muito expansivo. Há bons professores tímidos (eu sou um deles) e sisudos.
Cada um tem seu estilo e a riqueza da escola também é essa: tem professores de
todos os tipos. Você precisa ser fiel a si mesmo, crer no que faz (e saber
porque faz) e propor textos, discussões e tarefas que respeitem a inteligência
e a criatividade do aluno. Eles são muito capazes, e, exceções a parte, tem boa
vontade e querem aprender. Quando o aluno percebe um professor dedicado e
coerente na frente dele, há uma tendência a ouvi-lo e respeitá-lo. Eu acho que
temos que nos esforçar para cativá-los, claro, mas o professor não é um
animador de auditório, não está lá para ser amigo ou simpático. Não estou
advogando que sejamos mau humorados ou tiranos, mas também não sou daqueles que
acham que somos só nós professores os responsáveis pela aprendizagem do aluno.
Aprender pode ser legal, mas não é automaticamente legal. Implica trabalho,
esforço, leitura, enfim, é trabalhoso, às vezes, prazeroso.
A pergunta
levanta um mar de possíveis respostas. A primeira dica é pensar o cotidiano dos
alunos como um ponto de partida para a aprendizagem mais sistematizada. O que
eles leem, ouvem, fazem, querem, creem, temem, etc. Ouvi-los e organizar esta
massa de informações pode nos ligar aos temas da Geografia. Não, não é fácil, é
daí já vem outro ‘conselho”; é preciso ler, estudar, criar alternativas a
partir do que os outros (inclusive livros didáticos) já propuseram. Sou
otimista, creio que o professor pode marcar positivamente o aluno se ele fizer
um trabalho sério, dedicado e democrático. Falta em nossas escolas ouvir o
aluno com mais atenção e, a partir deste pontapé inicial, organizar
sistematicamente estratégias de leitura, escritura e interpretação de
diferentes textos que a vida cotidiana nos oferece.
Acreditem,
leitores, vocês podem se realizar na profissão e, ajudar muitos que os ouvem a
serem mais e melhores seres humanos.
Utópico? Sim,
um pouco, mas com os pés no chão também se pode sonhar. Deus ao mar perigos
deu, mas nele espelhou o céu, já escreveu Fernando Pessoa.
Prof. Nestor
A. Kaercher-
5.PPEG- Qual a
mensagem que podes deixar aos nossos colegas estagiários da licenciatura?
Prof. Nestor
A. Kaercher- Acho que todas as respostas anteriores tem dicas para vocês
repensarem suas práticas como estudantes e como futuros professores.
Pensem nos
belos exemplos de docentes que vocês tiveram, desde o Ensino Fundamental.
Tentem copiá-los. Pensem nos ‘maus exemplos’ de professores. Evitem fazer o que
eles fizeram com vocês.
Mostrem o que
de belo vocês sabem para eles: livros, filmes, histórias.
Façam
perguntas reais e efetivas (que precisam de respostas próprias) para eles. Ouça
com atenção o que eles tem a dizer. Peça para os colegas refletirem sobre o que
foi dito em aula pelos próprios colegas.
Eduquem pelo
exemplo. Sejam coerentes e éticos. Evitem sermões de bons conselhos, isso
resolve pouco.
Creiam que uma
docência comprometida pode abrir oportunidades para quem vem de baixo, e, sem
dúvida, pode sempre ampliar e complexificar a leitura de mundo de todo e
qualquer estudante, independente da idade ou classe social
Teria muito a
dizer, mas acho que isso já é um início de conversa.
Obrigado.
Sucesso.
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